10 de novembro de 2011

USP - 2011 (pra quem vê de fora)

de Novembro de 2011 às 16:04
Somos alunos da ECA-USP e visto a falta de imparcialidade da mídia com referência aos últimos acontecimentos ocorridos dentro da Universidade de São Paulo, cremos ser importante divulgar o cenário real do que realmente se passa na USP. Alguns fatos importantes que gostaríamos de mostrar:

- O incidente do dia 27/10/11, quando 3 alunos foram pegos portando maconha, NÃO foi o ponto de partida das reivindicações estudantis. Aquele foi o estopim para insatisfações já existentes.

- Portanto, gostaríamos de explicitar que a legalização da maconha, seja dentro da Cidade Universitária ou em qualquer espaço público, não é uma reivindicação estudantil. Alguns grupos até estão discutindo essa questão, mas ela NÃO entra na pauta de discussões que estamos tendo na USP.

- Os alunos da USP NÃO são uma unidade. Dentro da Universidade há diversas unidades (FFLCH, FEA, Poli, etc.) e, dentro de cada unidade, grupos com diferentes opiniões. Por isso não se deve generalizar atitudes de minorias para uma universidade inteira. O que estamos fazendo, isso no geral, é sim discutir a situação atual em que se encontra a Universidade.

- O Movimento Estudantil, responsável pelos eventos recentes, NÃO é uma organização e tampouco possui membros fixos. Cada ação é deliberada em assembleia por alunos cuja presença é facultativa. O que há é uma liderança desse movimento, composta principalmente por membros do DCE (Diretório Central dos Estudantes) e dos CAs (Centros Acadêmicos) de cada unidade. Alguns são ligados a partidos políticos, outros não.

- Portanto, os meios pelos quais o Movimento Estudantil se mostra (invasões, pixações, etc.) não são decisão de maiorias e, portanto, são passíveis de reprovação. Seus fins (ou seja, os pontos reais que são discutidos), no entanto, têm adesão muito maior, com 3000 alunos na assembleia do dia 08/11.

- Apesar de reprovar os meio usados pelo Movimento Estudantil (invasões, depredação), não podemos desligitimar as reivindicações feitas por esses 3000 alunos. Os fatos não podem ser resumidos a uma atitude de uma parcela muito pequena dos universitários.

Sabendo do que esse movimento NÃO se trata, seguem suas reinvidicações: 

DISCUSSÃO DO CONVÊNIO PM-USP / MODELOS DE SEGURANÇA NA USP

A reivindicação estudantil não é: PM FORA DO CAMPUS, mas antes SEGURANÇA DENTRO DO CAMPUS. Os estudantes crêem na relação dessas reivindicações por três motivos:

A PM não é o melhor instrumento para aumentar a segurança, pois a falta de segurança da Cidade Universitária se deve, entre outros fatores, a um planejamento urbanístico antiquado, gerando grandes vazios. Iluminação apropriada, política preventiva de segurança e abertura do campus à populacão (gerando maior circulação de pessoas) seriam mais efetivas. Mas, acima de tudo...

A Guarda Universitária deve ser responsável pela segurança da universidade. Essa guarda já existe, mas está completamente sucateada. Falta contingente, treinamento, equipamento e uma legislação amparando sua atuação. Seria muito mais razoável aprimorá-la a permitir a PM no campus, principalmente porque...

A PM é instrumento de poder do Estado de São Paulo sobre a USP, que é uma autarquia e, como tal, deveria ter autonomia administrativa. O conceito de Universidade pressupõe a supremacia da ciência, sem submissão a interesses políticos e econômicos. A eleição indireta para reitor, com seleção pessoal por parte do governador do Estado, ilustra essa submissão. O atual reitor João Grandino Rodas, por exemplo, era homem forte do governo Serra antes de assumir o cargo.

POSTURA MAIS TRANSPARENTE DO REITOR RODAS / FIM DA PERSEGUIÇÃO AOS ALUNOS

Antes de tudo, independentemente de questões ideológicas, Rodas está sendo investigado pelo Ministério Público de São Paulo por corrupção, sob acusação de envolvimento em escândalos como nomeação a cargos públicos sem concurso (inclusive do filho de Suely Vilela, reitora anterior a Rodas), criação de cargos de Pró-Reitor Adjunto sem previsão orçamentária e autorização legal, e outros.

No mais, suas decisões são contrárias à autonomia administrativa que é direito de toda universidade. Depois de declarar-se a favor da privatização da universidade pública, suspendeu salários em ocasiões de greve, anunciou a demissão em massa de 270 funcionários e, principalmente, moveu processos contra alunos e funcionários envolvidos em protestos políticos.

Rodas, em suma: foi eleito indiretamente, faz uma gestão corrupta e destrói a autonomia universitária.

Você pode estar pensando…

MAS E O ALUNO MORTO NO ESTACIONAMENTO DA FEA-USP, ENTRE OUTRAS OCORRÊNCIAS?
Sobre o caso específico, a PM fazia blitz dentro da Cidade Universitária na noite do assassinato. Ainda é bom lembrar que a presença da PM já vinha se intensificando desde sua primeira entrada na USP, em Junho/2009 (entrada permitida por Rodas, então braço-direito de Serra). Mesmo assim, ela não alterou o número de ocorrências nesse período comparado com o período anterior a 2009. Ao contrário, iniciou um policiamento ostensivo, regularmente enquadrando alunos, mesmo em unidades nas quais mais estudantes apoiam sua presença, como Poli e FEA.

MAS E A DIMINUIÇÃO DE 60% NA CRIMINALIDADE APÓS O CONVÊNIO USP-PM?
São dados corretos. Porém a estatística mostra que esta variação não está fora da variação anual na taxa de ocorrências dentro do campus ( http://bit.ly/sXlp0U ). A PM, portanto, não causou diminuição real da criminalidade na USP antes ou depois do convênio. Lembre-se: ela já estava presente no início do ano, quando a criminalidade disparou.

MAS, AFINAL, PARA QUE SERVE A TAL AUTONOMIA UNIVERSITÁRIA?
Serve para que a Universidade possa cumprir suas funções da melhor maneira possível. De maneira simplista, são elas:
- Melhorar a sociedade com pesquisas científicas, sem depender de retorno financeiro imediato. 
- Formar cidadãos com um verdadeiro senso crítico, pois mera especialização profissional é papel de cursos técnicos e de tecnologia.

Importante: autonomia universitária total não existe. O dinheiro vem sim do Governo, do contribuinte, porém a autonomia universitária não serve para tirar responsabilidades da Universidade, mas sim para que ela possa cumprir essas responsabilidades melhor.

COMO ISSO ME AFETA? POR QUE EU DEVERIA APOIA-LOS?
As lutas que estão ocorrendo na USP são localizadas, mas tratam de temas GLOBAIS. São duas bandeiras: SEGURANÇA e CORRUPÇÃO, e acreditamos que opiniões sobre elas não sejam tão divergentes. Alguém apoia a corrupção? Alguem é contra segurança? 

O que você acha mais sensato:
- Rechaçar reivindicações justas por conta de depredações e atos reprováveis de uma minoria, ou;
- Aderir a essas mesmas reivindicações, propondo ações mais efetivas?

Você tem a liberdade de escolher, contra-argumentar ou mesmo ignorar.
Mas lembre-se de que liberdade só existe com esclarecimento.
Esperamos ter contribuído para isso.

Se você se interessa pelo assunto, pode começar lendo este depoimento: http://on.fb.me/szJwJt 

Bárbara Doro Zachi
Jannerson Xavier Borges

PS: Já que a desconfiança é com a mídia, evitamos linkar material de qualquer veículo.



________________________________________________


‎"Será que não termina nunca? Porque desde que a gente se conhece, a cada par de ano estamos nós nas ruas, nas passeatas, nas assembleias, na repetição interminável do autoritarismo, da repressão, da ausência de diálogo.
...
Essa sensação de que é interminável: de que nós não fazemos outra coisa senão defender a Universidade, defender a Educação, defender a Cultura, defender a Democracia nesse p
aís desde sempre.
[...]
(Para os estudantes da USP:) que você se sintam parte de uma longa História! Uma História que não começa com vocês. Provavelmente não terminará com vocês. E passará a seus filhos e depois a seus netos. Se este país continuar sempre dessa maneira em que a cada manifestação de discordância, de oposição e de cidadania, a resposta for a polícia.
O que há de inacreditável dessa vez, como aliás em 2007, é que, em uma única gestão, a Reitoria tenha conseguido trazer duas vezes a polícia para dentro do Campus. É muita coisa para uma história só. Numa única gestão. Não é possível uma coisa dessa.
É preciso também levar em conta o modo como a imagem da Universidade Pública está sendo distorcida nos meios de comunicação nesses últimos dias: a ideia de que nós não representamos a Universidade Pública, nem os interesses da Universidade Pública, nem os direitos da Universidade Pública, mas que nós queremos destruir a Universidade Pública e impedir que aqueles que querem fazer pesquisa, aqueles que querm lecionar, aqueles que querem estudar possam realizar os seus objetivos porque nós estamos aqui para impedir.
A ideia é uma construção lenta, gradual e segura da imagem de que aqueles que se colocam na defesa da Universidade Pública apareçam como aqueles que querem destruí-la e depredá-la."

Professora Marilena Chauí (http://www.fflch.usp.br/df/site/professores/chaui.php), em ato contra a presença da PM na USP, realizado no dia 16/06/09 no anfiteatro da Geografia-FFLCH.
YOUTUBE - Marilena Chauí :: Contra a PM na USP :: 16/06/09

______________________________________________


Só quem fez movimento estudantil é que sabe a importância desta imagem. Só quem fez movimento estudantil na USP emociona-se com essa imagem. Só quem fez movimento estudantil na USP e se formou na FFLCH sabe quão caluniosa é essa história de que o movimento é composto por playboys e garotos mimados. Só quem, sendo trabalhador, fez movimento estudantil, participou de greves e mesmo assim deu conta d
e sua vida acadêmica sabe o quanto ofende quando dizem que o que está acontecendo na USP é coisa de vagabundos. Parem de reproduzir essa bobagem que o PIG diz sobre a maconha e outras distorções. Informem-se. Só quem já viveu o debate dentro da USP sabe que o que chega pela tela da tv globo e pela VEJA não é nada do que realmente acontece por lá. Sim, pelas bobagens que tenho lido por aí, só quem viveu algo semelhante que esses estudantes estão vivendo entende quão importante é uma imagem como esta. Ainda bem que eu sei! (Sumaya - @_sumaya)



Foto de http://www.facebook.com/bwstefano

_________________________________________________________________