29 de dezembro de 2012

Um Conto de Natal

Todo Natal, ou releio esta história ou assisto a uma versão que não conhecia.

Em outro ano, publiquei aqui no blog um link para a história completa: http://professorasumaya.blogspot.com.br/search/label/Charlies%20Dickens

 Neste ano, indico esta linda versão:



Ano: 1999 
Duração: 100 minutos 
Origem: EUA 
Distrubuidora: David Hugh Jones 
Direção: David Hugh Jones 
Roteiro: Peter Barnes, baseado em estória de Charles Dickens 
Produção: Dyson Lovell 
Música: Stephen Warbeck 
Fotografia: Ian Wilson 
Elenco: Patrick Stewart (Ebenezer Scrooge), 
Richard E. Grant (Bob Cratchit), 
Joel Grey (Fantasma dos Natais Passados), 
Ian McNeice (Albert Fezziwig), 
Saskia Reeves (Sra. Cratchit), 
Desmond Barrit (Fantasma do Natal Presente), 
Bernard Lloyd (Fantasma de Jacob Marley), 
Dominic West (Fred), 
Trevor Peacock (Joe), 
Liz Smith (Sra. Dilber), 
Elizabeth Spriggs (Sra. Riggs), 
Kenny Doughty (Scrooge - jovem), 
Laura Fraser (Belle), 
Celia Imrie (Sra. Bennett), 
John Franklyn-Robbins (Sr. Crump), 
Tim Potter (Fantasma dos Natais Futuros). 

Ebeneezer Scrooge (Patrick Stewart) é um avarento homem de negócios, que detesta a época de Natal e odeia ter de dar um dia de folga para o melhor empregado dele, Bob Cratchit (Richard E. Grant). Na véspera de Natal Scrooge é visitado pelo fantasma do seu último amigo e sócio, Jacob Marley (Bernard Lloyd), que, após morrer, viu os erros que cometeu. Assim Marley avisa para Scrooge que ele será visitado pelos fantasmas do Natal passado, presente e futuro, com a esperança que isto ensine Scrooge da importância de ser solidário na época de Natal.


7 de setembro de 2012

Bertolt Brecht

De que serve a bondade se os bons são imediatamente liquidados,ou são liquidados aqueles para os quais eles são bons?

De que serve a liberdade se os livres têm que viver entre os não-livres?

De que serve a razão se somente a desrazão consegue o alimento de que todos necessitam?

Em vez de serem apenas bons,esforcem-se para criar um estado de coisas que torne possível a bondade, ou melhor:que a torne supérflua!

Em vez de serem apenas livres,esforcem-se para criar um estado de coisas que liberte a todos e também o amor à liberdade torne-se supérfluo!

Em vez de serem apenas razoáveis,esforcem-se para criar um estado de coisas que torne a desrazão de um indivíduo um mau negócio.

Bertolt Brecht







Desconfiai do mais trivial , na aparência singelo. 
E examinai, sobretudo, o que parece habitual. 
Suplicamos expressamente: não aceiteis o que é de hábito como coisa natural, 
pois em tempo de desordem sangrenta, de confusão organizada, 
de arbitrariedade consciente, de humanidade desumanizada, 
nada deve parecer natural nada deve parecer impossível de mudar. 


Bertolt Brecht





Os que lutam
Há aqueles que lutam um dia; e por isso são muito bons; 

Há aqueles que lutam muitos dias; e por isso são muito bons; 
Há aqueles que lutam anos; e são melhores ainda; 
Porém há aqueles que lutam toda a vida; esses são os imprescindíveis.

Bertolt Brecht








Precisamos De Você.

Aprende - lê nos olhos,
lê nos olhos - aprende
a ler jornais, aprende:
a verdade pensa
com tua cabeça.

Faça perguntas sem medo
não te convenças sozinho
mas vejas com teus olhos.
Se não descobriu por si
na verdade não descobriu.

Confere tudo ponto
por ponto - afinal
você faz parte de tudo,
também vai no barco,
"aí pagar o pato, vai
pegar no leme um dia.

Aponte o dedo, pergunta
que é isso? Como foi
parar aí? Por quê?
Você faz parte de tudo.

Aprende, não perde nada
das discussões, do silêncio.
Esteja sempre aprendendo
por nós e por você.

Você não será ouvinte
diante da discussão,
não será cogumelo
de sombras e bastidores,
não será cenário
para nossa ação.


Bertolt Brecht






Disponível em: <http://www.culturabrasil.pro.br/brechtantologia.htm>. Acesso em 07 set. 2012.








9 de fevereiro de 2012

A Dividida

Luís Fernando Veríssimo  


Raimundo entrou firme, Luiz Carlos voou longe. A bola espirrou pela linha de fundo…


-          Pô, Mundo! – disse Luiz Carlos, do chão.


-          É pra homem – disse Raimundo. E em seguida foi pra cima do juiz, que tinha dado escanteio. – Bola prensada! Bola prensada!


No vestiário, Luiz Carlos mostrou a perna para o Raimundo.


- Olha o que você fez.


- É do jogo, meu.


- Do jogo, não. Tu é que é um animal.


A discussão continuou no carro. Luiz Carlos dava carona para o Raimundo.


Todas as terças, do condomínio para o ginásio, do ginásio para o condomínio.


Os dois se conheciam desde a adolescência. Eram sócios numa firma de engenharia. Eram cunhados. Moravam em casas pegadas, no mesmo condomínio.


Sempre jogavam no mesmo time. Naquela noite, Raimundo fora aliciado pelo outro time. Tinha fama de bom marcador. Viril, mas leal.


- Acho que vou ter que tirar uma radiografia.


- É, flor? 


- Pô, tu ainda brinca?


- Não foi nada. Eu entrei na bola.


- Entrou por cima.


- Na bola! Você é que entrou com pé de anjo.


- Olha o que o seu irmão me fez.


- O Mundo fez isso?


- Fez. Entrou por cima da bola. Não sei como eu não quebrei a perna.


- O time de vocês anda bom, hein? Um trombando no outro…


- Ele jogou no outro time. É um animal.


- O Mundo, um animal?


- Você nunca viu ele numa quadra. Se transforma.


- O Mundo é incapaz de matar uma mosca.


- Porque elas fazem o que eu não fiz. Pulam fora.


Na manhã seguinte, se encontraram, cada um saindo da sua casa. Luiz Carlos mancando, Raimundo caçoando.


- Pensei que você estivesse no hospital…


- Olha aqui, ó troglodita. Não fala comigo – Na UTI!


- Isto é o que dá jogar contra perna-de-pau.


- Ah é? Eu sou perna-de-pau? Eu sou viril, mas leal, se você quer saber.


Viril, mas leal.


- Viril, mas leal… Assassino, mas traiçoeiro, isso sim.


- Eu divido, meu irmão.


- E eu?!


- Você pipoca.


- Eu não acredito… Você entrou por cima da bola, Mundo.


Admite.


- Entrei na bola!


- Por cima!


A discussão continuou na reunião das quartas, na firma. Ficou tão violenta que a reunião teve que ser suspensa. Decisões importantes foram adiadas porque os dois não quiseram mais se falar, naquele dia ou no resto da semana. E no sábado, pela primeira vez desde que tinham se mudado para o condomínio, as duas famílias não fizeram o churrasco juntas. Cada um fez na sua churrasqueira. E proibiu a mulher e os filhos de se aproximar da mulher e dos filhos do outro.


No domingo, as mulheres decidiram que aquilo já fora longe demais.


Convenceram os dois a sentar para conversar. Como amigos. Como parentes.


Como sócios. Como adultos.


- Foi inveja – disse o Raimundo.


- O quê?!


- Deixa o Mundo falar, Luiz Carlos – pediu a mulher dele. – Depois você fala.


O Raimundo contou que tinha sido convocado para reforçar o outro time, que sempre perdia nos jogos das terças. Justamente porque não tinha um jogador como ele. Bom marcador. Viril, mas leal. E o Luiz Carlos ficara com ciúmes por não ter sido o escolhido. Porque o Luiz Carlos, para quem não soubesse, era um ciscador, dado a brilhaturas inúteis, ao contrário dele, que entrava para decidir jogos. Tanto que o seu time fora o vencedor, naquela noite. Por ciúmes, o Luiz Carlos tentara acertá-lo numa bola dividida, e ele apenas se defendera. Por ser apenas um ciscador inconseqüente, e não saber dividir bola, levara a pior.


Luiz Carlos estava com o rosto escondido entre as mãos, como que envergonhado pelo outro. Levantou a cabeça quando Raimundo acabou de apresentar o seu lado.


- Posso falar? Você já acabou de mentir?


- Fala.


- Dividir bola é uma coisa. Entrar com o pé por cima da bola é outra. Não é uma questão de estilo. É uma questão de ter ou não ter caráter.


- É uma questão de ser ou não ser veado.


- Veado não!


- Sabe de uma coisa? A firma só foi pra frente nestes anos todos porque eu estava lá pra dividir todas. Eu dividia enquanto você pipoqueava.


- “Pipoqueava”, não!


A reunião de paz terminou em guerra declarada.


Na firma, a situação ficou insustentável. Negócios foram perdidos porque os dois se recusavam a se encontrar. Acabaram desfazendo a sociedade.


Abandonaram o condomínio. Perderam dinheiro. Os dois, aliás, estão muito mal de vida. Mas nenhuma reconciliação é possível. Segundo Raimundo, no mundo há os que dividem a bola e há os que não dividem. Segundo Luiz Carlos, o mundo está dividido entre os que vão na bola e os que vão com o pé por cima. E quando as mulheres perguntaram como os dois tinham vivido e trabalhado juntos em paz durante tanto tempo, os dois responderam a mesma coisa. Era porque nunca antes tinham jogado um contra o outro.


texto extraído do jornal O Estado de São Paulo – Jun/2001